Como alavancar a economia florestal e qual o papel das cadeias produtivas de alimentos nesse processo?
Com o objetivo de contribuir para um debate que auxilie a reflexão na busca dessas respostas, a diretora executiva da IDH Brasil e do Programa de Paisagens Sustentáveis na América Latina, Daniela Mariuzzo, participou do 1º dia do Conexão pelo Clima On 2020, evento realizado nos dias 21 e 22 de setembro, com o objetivo de discutir as conexões rumo a uma economia de baixo carbono.
No painel Agricultura, Florestas e Uso da Terra foram abordados os desafios relacionados ao tema tendo como ponto alto do debate a questão do desmatamento na Amazônia.
Daniela Mariuzzo falou sobre o formato de intervenção da IDH nos mais de 50 países nos quais atua e da abordagem de paisagens, que preconiza o equilíbrio dos fatores de produção, proteção e inclusão sob um modelo de governança territorial. “A IDH foi criada a pedido do setor privado aos governos da Europa para apoiar a produção de comodities sustentáveis. Então, nossa agenda não é impor a questão do desmatamento zero porque entendemos que no Brasil já existe o Código Florestal que regula o uso do solo no país”, elucidou.
Segundo a diretora da IDH, uns dos caminhos para equalizar esse desafio é ofertar soluções para que o produtor produza melhor e não precise converter novas áreas de floresta para uso agropecuário. “Para isso é preciso ter assistência técnica, crédito e informações. Em Mato Grosso estamos conseguindo fazer isso através de uma estratégia de longo prazo com objetivos para 15 anos (lançada em 2015) chamada Produzir, Conservar e Incluir”, exemplificou Mariuzzo. Ela defende que esse olhar para a paisagem, ou seja, além dos limites das propriedades, tem se mostrado uma abordagem eficaz para promover o uso mais sustentável da terra, com inclusão social e conservação dos recursos naturais.
O diretor executivo de Novos Negócios do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e coordenador do Programa de Aceleração de Investimentos de Impacto da Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA), Mariano Cenamo, também falou sobre essa relação entre a produção e conservação. Ele ponderou que falar sobre números na Amazônia pode induzir à generalização de uma realidade que é bastante complexa. Cenamo citou como exemplo o fato de o bioma corresponder a 66% do território brasileiro, mas gerar menos de 8% do Produto Interno Bruto (PIB). “A maior parte vem do polo industrial de Manaus e da indústria de mineração no Pará. Claro que o agronegócio tem papel importante, mas o setor que mais gera riqueza, em termos de arrecadação de impostos, o da soja, está localizado no cerrado”, afirmou. Segundo ele, o setor pecuário na Amazônia ainda abriga muita atividade informal que, portanto, não gera um volume expressivo de arrecadação de impostos. “Então, como geramos um desmatamento tão grande e arrecadamos tão pouca riqueza?”, questionou.
O diretor do Idesam também trouxe ao debate uma provocação para as novas gerações: “Precisamos pensar sobre o futuro que queremos da Amazônia e do Brasil”, disse Cenamo, alertando para o fato de que não é mais viável reproduzir um modelo de décadas atrás quando pioneiros empreendedores abriram espaço na floresta para gerar produção agropecuária.
O painel sobre Agricultura, Florestas e uso da Terra também teve a participação da gerente de Sustentabilidade da Cargill, Renata Nogueira, e da gerente de Sustentabilidade da Natura, Luciana Villa Nova, sob a mediação do CEO da Pindorama Filmes, Estêvão Ciavatta.
O Conexão pelo Clima On 2020 foi realizado de forma online através de uma parceira da Climate Ventures, O Mundo Que Queremos e CDP Latin America.
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